A chama derrete a vela, deixando o ar
tomado por esse cheiro enjoado de parafina.
Minha memória olfativa relembra todos os perfumes de morte daquele dia. Cheiro de madeira. Cheiro de flores. Cheiro de caixão. Cheiro de vela. Olha o conjunto da infelicidade orquestrando sobre mais uma vida.
Minha memória olfativa relembra todos os perfumes de morte daquele dia. Cheiro de madeira. Cheiro de flores. Cheiro de caixão. Cheiro de vela. Olha o conjunto da infelicidade orquestrando sobre mais uma vida.
Meus olhos registraram os momentos em que aquele corpo jazia sobre
aquela maldita caixa de madeira. Aquele corpo que gerou o meu corpo. Aquele amor
que gerou o meu amor.
Ali, inerte. Sozinha em sua escuridão. Seus cabelos
longos e lisos sobre os ombros. Sua blusa em tom verde oliva, não movia-se
impulsionada pela sua respiração. Nunca mais iria se mover. Não havia mais
respiração. Não havia mais vida. Não havia mais fôlego. Não havia nada de nada.
Até o nada estava vazio. Aquele retângulo de vidro separava-nos. Forçou-me a
dar adeus...
Parece que foi ontem. O mesmo dia. O mesmo sol. A mesma brisa. A
mesma dor...
Ainda foge-me da razão, compreender o quanto percas desse nível
influenciam em nosso caminho. As coisas poderiam ser tão diferentes se eu ainda
a tivesse. Seriam tão diferentes se pudesse acariciar o seu rosto, remexer em seus
cabelos. Eu não estaria onde estou. Não faria o que faço agora. Não seria nada
daquilo que sou nesse instante. E a saudade permanece inspirando.
Nada mais
resiliente do que nós mesmos, tentarmos extrair positividade de situações
dolorosas e vazias.
Bom, tentar não custa! Todo dia merece uma chance de ser diferente. E
nós somos os que decidem fazer diferente. Estou a quatro anos procurando fazer
isso. A conquista é quase invisível, a dor é quase a mesma. O dia 28 de abril de 2009
é o mesmo. Tão longe, tão perto. Um paradoxo infernal.
Mas vou fazer o que? Não tem o que fazer.
Até meus olhos fecharem
também, até minha vida esvair também, vou seguir tentando.
Um dia as chamas das
velas queimarão. Um dia o cheiro da madeira fluirá. Porém, o que me alegra é
saber que não serão meus sentidos que os contemplarão.
Assim vamos seguindo adiante.
Vivendo a vontade de que esse dia de quatro anos passe.
J.Gonçalves 08 de Abril de 2013 – Balneário Camboriú SC
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